sábado, 21 de abril de 2012


O MEU SEGREDO DOS COSTUMES


Eu tenho um segredo.
Quer que eu lhe conte? Mas que pergunta mais besta! É claro que você quer saber o meu segredo, pois todas as pessoas querem saber os segredos umas das outras. É por este motivo que o mundo está do jeito que está: todos se metem na vida de todos.
A gente (inclusive eu) se acostuma a fazer um verdadeiro “interrogatório” aos nossos amigos, pessoas próximas e até outras pessoas, que ao menos devíamos conhecer para fazer as perguntas, mas, não conhecemos. Perguntamos coisas como: Qual é o seu salário? Qual é a sua idade? Quantos filhos você tem? Onde você mora? E uma porção extragrande de outras perguntas. 
Mas se eu lhe contar o meu segredo você não conta para ninguém?
Sabe o porquê da pergunta acima? Fiz-lhe essa pergunta porque as pessoas têm a tendência de se acostumar a ouvir o segredo das outras pessoas e depois sair contando-o para outras e outras pessoas, e essas outras pessoas contam para umas outras e outras pessoas, e assim sucessivamente.
Mas vou contá-lo para você, você é de minha confiança. Mas antes quero esclarecer-lhe algumas coisas sobre o meu segredo. Uma parte desse segredo não é só em relação a mim. Como assim? É em relação a todas as pessoas que talvez, tenham a mesma idade que eu, ou talvez não. Outra parte dele é somente relacionada a mim mesma.
Agora, finalmente, vou lhe contar o meu segredo. Começarei contando a parte que se relaciona a mim e, talvez a você também. Depois, partirei para a parte que eu acho que relaciona-se apenas a mim. Fique tranquilo, eu sei que você terá a capacidade de distinguir à qual dessas duas partes o que eu lhe contarei pertence.
Bem, você já pensou e refletiu sobre as coisas que nos acostumamos a ter, a ver, a sentir, a falar, a pensar, a fazer, etc., em toda a nossa, de certo modo, curta vida? Pois é, eu me acostumei a muitas coisas, que não deveria, de jeito nenhum, ter me acostumado.
Eu me acostumei a ler livros quando estou deitada na cama. Mas o que tem de mal nesse costume? Aparentemente nada, mas pensando bem, deitamos na cama para ler um livro, onde, provavelmente, iremos bocejar e logo dormir com o livro nas mãos. O ruim dessa história é que nós sabemos disso, mas não tomamos uma atitude para mudar. Se pretendemos realmente ler, e não dormir, temos que ir para um local claro, tranquilo e onde possamos sentar, e não deitar.
Eu me acostumei a sempre planejar o dia de amanhã. Sou, então, uma pessoa muito ansiosa. Quando deito na cama não consigo dormir por cerca de trinta minutos, porque fico pensando se fiz tudo o que tinha para fazer no dia todo e o que tenho que fazer no dia seguinte, e assim perco o tempo a mais que eu poderia dormir, esse costume não me permite dormir o tempo a mais que eu poderia.
Deixei de fazer receitas em casa, bolos, doces e salgados, e me acostumei a comprar tudo pronto, com todos os conservantes que os fabricantes colocam, com todo o preço que tenho que pagar pelo que compro pronto e com a distância que tenho que me locomover até a cidade para adquirir os alimentos prontos.
Eu também me acostumei a dormir até muito tarde nos dias em que não tenho que ir para a escola. Isso acontece porque tenho (e outras pessoas também têm) de levantar muito cedo durante os dias que tenho aula (durante a semana). Acabo não podendo ver os raios do sol bem claros, depois de logo ter nascido e não podendo aproveitar bem o dia, não vivê-lo do modo que ele deveria ser vivido.
Muitas pessoas, sendo uma delas eu, se acostumam a gastar muito mais do que poderiam. Mas gastam, gastam inconscientemente. Quando gastam inconscientemente se acostumam a fazer prestações, onde podem dividir o valor gasto em mensalidades bem menores e mais acessíveis do que pagar o valor total do produto em uma só vez, o chamado “valor a vista”.
Ainda relacionado ao famoso verbo que nos faz gastar tanto, comprar, eu me acostumei a comprar coisas que eu nem estava precisando. Você deve estar lhe perguntando por que eu comprei alguma coisa se eu não estava precisando. Eu respondo para você: Apenas comprei porque o tal produto estava na promoção, estava mais barato do que estaria normalmente.
Me acostumei a quando compro algo novo, logo fazer uso do mesmo. Nem que esse algo seja bem pequeno, um lápis, uma peça de roupa, um calçado, etc. Eu me acostumei a estrear logo o novo produto que eu adquiri.
Eu me acostumei a tirar somente notas boas, notas altas na escola. Mas isso me prejudicou muito, pois quando tiro uma nota baixa, tenho uma grande decepção comigo mesma, e isso não é bom e não faz bem. Hoje, me acostumei a tirar notas razoáveis, suficientes para passar de ano. Então, refaço a minha primeira frase deste parágrafo: “Eu me acostumei a tirar notas boas” pois esse não é o estado atual na minha vida.
Eu me acostumei a não escrever mais a mão, como eu era obrigada a fazer antes de chegar a máquina que substituiria essa simples ação: o computador. Com a sua chegada, poucas pessoas ainda escrevem a mão, tudo agora é digitado e tudo agora é exigido digitado. Além de ser mais fácil, digitar no computador é mais rápido também. Ele é uma ótima saída para aqueles que não têm uma letra um tanto legível para que possa ser compreendida.
Me acostumei a enquanto a chuva cai, ouvir o seu barulho e assistir um bom filme comendo pipoca. Mas por que eu não estou tomando um banho na chuva? Será porque eu vou pegar um resfriado, ficar doente e me molhar, ou será porque eu me acostumei a fazer outra coisa ao invés disso, que eu ache melhor para mim? Não seria melhor brincar um pouco na chuva e tomar um banho nela, aproveitar um pouco? São coisas que nos acostumamos. Pense bem no que você se acostuma, pois os costumes têm muita influência em nossa vida.
Eu também me acostumei a aceitar quando alguém não quer, de modo algum, ser meu amigo. Na maioria das vezes em que isso acontece, eu me pergunto se fiz algo de ruim para tal pessoa, mas quase sempre chego à conclusão de que não fiz nada e fico sem saber o motivo de ela não querer ser minha amiga. Gostaria muito que essa pessoa viesse conversar comigo e me dissesse por que não gosta de mim. Eu gostaria de ser amiga de todo mundo ou, pelo menos, ser amiga de quem eu gostaria de ter uma amizade, mas há pouco tempo eu acabei de perceber que isso nunca será possível, não tenho o poder de fazer alguém gostar de mim e  tornar-se meu amigo.
Eu me acostumei a ser um ser humano. Um ser humano que sente dores, que se machuca, que ama, que aprecia, que sabe argumentar quando é preciso, que sofre injustiças e que é, muitas vezes, desprezada. Eu me acostumei a me esforçar e trabalhar para ganhar o que quero. Enfim, me acostumei a fazer tudo o que um ser humano está acostumado a fazer.
Eu me acostumei a, depois de contar o meu segredo para alguém, dizer:
“Agora me conte o seu segredo!”
 
 
 
                                                                                           
 
 
 


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