sexta-feira, 17 de junho de 2011

DISCUTINDO O PORTUGUÊS ATRAVÉS DO LIVRO DIDÁTICO


Há algumas semanas atrás, os brasileiros que estavam fazendo os seus afazeres normalmente, foram obrigados a pará-los para assistir uma reportagem que o Jornal Nacional, um dos programas de maior audiência da televisão brasileira, estava prestes a colocar na mídia, em sua manchete do dia 13 de maio deste ano:
“Preste atenção à esta frase: ‘Os livro mais interessante estão emprestado’, para um livro de português, distribuído pelo Ministério da Educação (MEC), você pode falar assim. Mas deve ter cuidado para não sofrer preconceito linguístico. O Jornal Nacional mostra a polêmica.”
Você, como a maioria das pessoas, deve ter pensado horrores da educação brasileira ao terminar de assistir essa reportagem. A imprensa fez críticas muito graves ao livro tão comentado, de nome “Por uma Vida Melhor” tendo como uma das autoras Heloisa Ramos, dizendo que este livro “ensina errado”, o que foi uma conclusão extremamente precipitada da imprensa em relação ao livro didático.
Como é que eles podem criticar algo que eles nem buscaram conhecer?
Este é um fato que algumas vezes, ou muitas vezes, ocorre com a imprensa. Para que possamos julgar determinado tema, é preciso ter, no mínino, o devido conhecimento sobre o assunto em questão. Quem normalmente tem esse conhecimento são os linguístas, pessoas aptas para analisar nossa língua e suas variações, não qualquer pessoa que queira opinar sobre o assunto.
Evidenciando a norma culta, a imprensa se mostra desinformada sobre as variações linguísticas e a adequação, parecem até não serem brasileiros, pois o brasileiro deve ter consciência de que há variações em nossa língua, variações que devem ser respeitadas e incluídas na língua, temas que vêm sendo abordados pelos professores nas aulas de Língua Portuguesa.
O nosso idioma é bem diversificado, ou seja, varia em alguns aspectos de acordo com a região. Isso não é ruim, ao contrário, é uma riqueza extraordinária que a nossa língua tem, pois cada região tem uma história, logo, cada uma tem sua cultura. O que não quer dizer que em um estado as pessoas falam certo e em outro falam errado, de modo algum. Muitas vezes, a cultura adota expressões de cada região. Essas expressões não fazem parte da língua padrão – lembrando que variam de acordo com o local onde surgem -, porém não podem ser excluídas da Língua Portuguesa.
Outro fato que gerou polêmica, foi o de podermos falar de um modo informal, um modo que falamos em certas situações que não precisam de formalidades. Falar, casualmente, “os livro” não estaria errado. O importante é saber escrever, e também, não esquecendo da gramática, considerando que é fundamental usá-la em provas, vestibulares, relatórios, avaliações, etc., mas ela não é a parte da língua mais importante, aquela que deve ser seguida ao pé da letra. Uma frase do autor Luís Fernando Veríssimo, no texto “O gigôlo das palavras”, é verdadeira em relação à gramática: ‘... a Gramática é a estrutura da língua, mas sozinha não diz nada, não tem futuro’.
Há momentos adequados para todo tipo de linguagem, seja formal ou informal, basta saber o momento adequado para se utilizar cada uma delas. Em uma conversa com os amigos, por exemplo, você irá usar uma linguagem formal? E em uma entrevista de emprego você irá falar da mesma maneira que você fala com os seus amigos, ou em sua própria casa? Acredito que a resposta seja não. Nos dois casos acima você irá utilizar diferentes formas de falar, com os amigos você usará uma linguagem mais informal, já em uma entrevista de emprego, sua linguagem deverá ser mais formal.
Seria correto, então, dizer que o livro de Heloísa Ramos, ensina falar português errado? Não. A maioria das pessoas teve uma interpretação muito equivocada em relação ao livro e aos autores. Por que? Porque essas pessoas que falaram e criticaram o livro, leram uma ou duas páginas dele, e há uma frase que se encaixa muito bem no perfil destas pessoas: Pior do que não ler nada é ler apenas um pouco. Foi o que aconteceu com elas, leram apenas algumas frases das páginas iniciais do livro e depois saíram pela mídia a fora criticando o livro de português. Essas pessoas que questionaram e criticaram o MEC (Ministério da Educação e Cultura) por ter aprovado este livro, se dizem “Doutores da Educação”, mas na verdade não entendem nada, só entendem de gramática. Elas não convivem e não conhecem na prática a realidade cultural do nosso país. Não estão, portanto, aptos a falar e dar a sua opinião sobre assuntos que não conhecem, como as variações que a nossa língua apresenta.
As frases que geraram toda essa polêmica estão na página 14 do livro “Por uma Vida Melhor”. Uma delas é a seguinte:
“Os livro mais interessante estão emprestado.”
Na mesma página está a explicação dos autores, o que não foi levado em consideração por essas pessoas que o criticaram:
“Na variedade popular, basta que a palavra ‘os’ esteja no plural. A língua portuguesa admite esta construção.”
O que é verdade, pois a maioria das pessoas, em suas residências, fala assim, como: “Me alcança os dois livro”, “As pessoa estão doente”, entre muitas outras coisas que falamos sem usar a concordância correta. Ninguém fala “A pessoas estão doente” ou “Me alcança o dois livros”, é como diz a explicação dos autores (acima), nós colocamos a palavra ‘os’ no plural, a palavra à esquerda da frase, não a palavra depois da que indica o plural. E quanto ao autores dizerem que ‘a língua portuguesa admite essa construção’, eles querem dizer que existem as variações que devem ser aceitas, pois também fazem parte da nossa língua.
Mas há uma frase que os autores poderiam ter estruturado melhor, à uma pergunta que está na página 15 do livro didático:
“Mas eu posso falar ‘os livro’?”
Sendo como resposta a frase que eles poderiam ter estruturado melhor:
“Claro que pode.
Dependendo da situação, a pessoa corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico.”
Os autores do livro poderiam ter dito “Você pode, mas dependendo da situação a pessoa corre o risco de sofrer preconceito linguístico.” Não ter colocado no livro “Claro que pode.”, pois parece que é algo irônico, muito simples, o que não é.
É muito interessante o que Heloisa Ramos diz em entrevista ao Jornal Nacional:
“Heloisa Ramos diz que a intenção é mostrar que o conceito de correto e incorreto deve ser substituído pela ideia de uso adequado e inadequado da língua, uso que varia conforme a situação. Ela afirma que não se aprende o português culto decorando regras ou procurando o significado de palavras no dicionário.”
Essas sim, são palavras de uma pessoa que entende do assunto, que é capacitada para poder criticar, elogiar, opinar, sobre tudo que acontece com a nossa língua (Heloisa Ramos).
Para defender uma coisa não é preciso eliminar a outra. É preciso compreender cada uma, visando evitar o preconceito linguístico e ao mesmo tempo ajudar as pessoas a entender o nosso idioma e alguns de seus padrões.
Todos são brasileiros, todos falam português. Porém, ainda há um certo preconceito diante das variações, fato que os linguístas tentam combater.
Precisamos entender que não há apenas uma forma certa de falar, temos que entender que há variações, variações que enriquecem a nossa língua, sendo, então, muito importantes para nós, brasileiros.
(Fonte da imagem: psolsp.org.br)




FIM

quarta-feira, 1 de junho de 2011